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"Castro do Monte de Faria | Desenho dos vestígios de um património"

Atualizado: 18 de out. de 2023

por Vânia Sofia Faria Costa


Resumo


Os desenhos aqui apresentados foram realizados aquando as últimas visitas ao Castro do Monte de Faria e fazem parte de um Caderno de Viagem/ Diário Gráfico cuja contínua realização surge da sentida necessidade e im portância de observar, registar, conhecer, reflectir o património arquitectónico herdado, parte da história humana, da memória comum, de incalculável interesse público. O desenho é utilizado como instrumento de registo, de um olhar próprio, e de reflexão sobre o objecto arquitectónico e o lugar onde este se insere.

O breve apontamento que se segue sobre o Castro do Monte de Faria, resultado, sobretudo, da observação e reflexão sobre o mesmo, tem apenas o propósito de o apresentar e, assim, contextualizar os referidos desenhos.


 

Castro do Monte de Faria

Assentes num outeiro íngreme e rochoso, na encosta noroeste do Monte da Franqueira, revelam-se as ruí nas do Castro do Monte de Faria. Situado nas terras do antigo Julgado de Faria, estende-se pelas actuais freguesias de Gilmonde, Milhazes e Pereira, no concelho de Barcelos, distrito de Braga, e, apesar de não se encontrar implantado no ponto mais elevado do Monte da Franqueira, emerge numa posição de domínio sobre a paisagem envolvente.


No território por onde se estendem as ruínas do Castro do Monte de Faria encontram-se vestígios de ocupação humana desde, aproximadamente, a Idade do Bronze até à Idade Média, inclusive, denotando-se, desde logo, nas desmanteladas estruturas arquitectónicas, uma sucessão de tempos construtivos. A descoberto, essencialmente, apresentam-se claros vestígios de uma civilização castreja e posterior ocupação romana e, no topo do outeiro, restos do medieval Castelo de Faria, outrora Cabeça da terra de Faria.

O território bastante acidentado, com enormes penedos a nascente e uma ladeira escarpada a poente, propiciava aos povoados que ali habitaram refúgio e defesa natural. O povoado castrejo, de modo a tornar o lugar mais inacessível, tratou da construção de um conjunto defensivo composto por três muralhas e dois fossos, em parte visíveis. Estas estruturas, embora desmanteladas, exibem-se ainda imponentes sobre o território, revelando a grandeza das suas anteriores dimensões.

A terceira muralha (que corresponde à que se situa à cota mais inferior), não se encontra visível em toda a sua extensão e parte foi destruída aquando a abertura do caminho que liga a freguesia de Pereira à freguesia de Milhazes. A segunda e a primeira muralhas, visíveis na sua totalidade, são duplamente reforçadas e apresentam, respectivamente, três portas (a Este, a Noroeste e a Sudeste) e uma porta (a Este). A primeira muralha foi, à Época Medieval, reaproveitada para a edificação do Castelo, apresentando, actualmente, no seu interior, vestígios da Torre de Menagem, de planta quadrangular, e de outros muros adossados a esta e à muralha, que poderão ser restos do Paço do Alcaide.

Ao redor da segunda muralha é onde, actualmente, se apresentam, a descoberto, para além do enunciado supra, a maioria dos vestígios. Entre a terceira e a segunda muralhas, ladeando a porta Este da segunda muralha, por onde se efectua o acesso mais fácil ao outeiro, encontram-se vestígios de pequenas ruas pavimentadas e de vá rios conjuntos habitacionais, constituídos por unidades, com ou sem vestíbulo, de planta circular, subcircular e subrectangular. Junto da porta Noroeste da segunda muralha, levanta-se um talude que envolve um pequeno espaço voltado para o vale, no qual se encontram vestígios de uma unidade circular de considerável dimensão. Apre sentam-se, ainda, vestígios de um largo muro que poderá ser parte da terceira muralha, ou, tendo em conta a gran de proximidade deste à segunda muralha, parte de uma barbacã. A norte, próximo da segunda muralha, encontram se vestígios de várias estruturas com formas cónicas. A poente, mais afastado do cume do outeiro, encontram-se vestígios de conjuntos habitacionais de planta rectangular.

Próximo ao Castro do Monte de Faria, localizam-se, a nordeste, a cota inferior, a Igreja e Convento da Franqueira/dos Frades e, a sudeste, a cota superior, a Ermida da Nossa Senhora da Franqueira. Muita pedra do re ferido Castro, já arruinado no século XVI, foi utilizada para a construção destas estruturas e de outras dos povos vizinhos.

Nas décadas de 20, 30 e 40, foram realizadas, pelo Grupo Alcaides de Faria Pró-Franqueira (fundado em 1929 com o objectivo de explorar as ruínas do Castro do Monte de Faria), a maioria das escavações arqueológicas e posteriores acções de conservação e reconstrução, algumas destas bastante discutíveis. Nas décadas de 70 e 80 foram realizadas outras escavações arqueológicas e acções de conservação. Os registos das escavações arqueológicas realizadas mostram a existência de vestígios de outras estruturas que, actualmente, não se encontram a descoberto.


Nas últimas décadas, não há notícia de acções expressivas no Castro do Monte de Faria, tendo sido somente realizadas esporadicamente acções de limpeza do mato envolvente. Até então muito puco foi feito para o preser var, proteger, valorizar e dar a conhecer, encontrando-se, actualmente, envolto num manto de árvores e plantas agrestes, entregue ao desrespeito, abandono e esquecimento por parte do ser humano.


DESENHOS


1. Castro do Monte de Faria, Vestígios, Torre de Menagem, 2020, caneta sobre papel, A5


2. Castro do Monte de Faria, Vestígios, 1.ª Muralha, Porta, 2020, caneta sobre papel, A5

3. Castro do Monte de Faria, Vestígios, 1.ª Muralha, Porta, 2020, caneta sobre papel, A5

4. Castro do Monte de Faria, Vestígios, 1.ª Muralha, 2020, caneta sobre papel, A5

5. Castro do Monte de Faria, Vestígios, 2.ª Muralha, Talude e outras Estruturas, 2020, caneta sobre papel, A5


6. Castro do Monte de Faria, Vestígios, 2.ª Muralha, Porta, Talude e outras Estruturas, 2020, caneta sobre papel, A5

7. Castro do Monte de Faria, Vestígios, 2.ª Muralha e outras Estruturas, 2020, caneta sobre papel, A5


8. Castro do Monte de Faria, Vestígios, 3.ª Muralha e Conjuntos Habitacionais, 2020, caneta sobre papel, A5


9. Castro do Monte de Faria, Vestígios, Conjuntos Habitacionais, 2020, caneta sobre papel, A5


10. Castro do Monte de Faria, Vestígios, 2.ª Muralha, Porta, e Conjuntos Habitacionais, 2020, caneta sobre papel, A5

 

Autora : Vânia Sofia Faria Costa, natural da freguesia de Pereira, concelho de Barcelos, distrito de Braga, estudante na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (a realizar a Dissertação de Mestrado em Arquitectura).


 

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