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Sobre

“Eu nunca quis ser jovem. O que eu queria era ter história.”[1]
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“Fiquei apavorada de ter nascido mulher depois procurei me ajeitar.”[2]
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Lina Bo Bardi
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A revista LINA surge da vontade e necessidade de criar um espaço de discussão e reflexão protagonizado por mulheres dentro das esferas da arquitetura e da urbanística. Pretendemos construir este espaço a partir de perspectivas feministas interseccionais e transdisciplinares, especialmente orientadas para questionar e desconstruir a falsa noção de neutralidade do masculino perpetuada nestas práticas e nas construções teóricas associadas.

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Nomeamos este projeto “LINA” como femenagem [3] à arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, cujo trabalho arquitectónico e editorial (na revista A em Itália, e na revista Habitat, no Brasil) representam um contributo significativo na prática profissional, na investigação e, sobretudo, na Herstory [4] da arquitetura. Por outro lado, a escolha do nome da revista traduz um posicionamento político que articula as vivências pessoais das mulheres que integram a equipa editorial, enquanto mulheres de nacionalidades diversas que residem em Portugal. Neste sentido, tal como Lina Bo Bardi, acreditamos na importância do enquadramento das nossas reflexões, ainda que sobre arquitetura e urbanismo, desde as nossas subjetividades políticas enquanto mulheres imigrantes.

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“Lina” permite ainda expressar uma outra dimensão crítica que ironiza e se reapropria da estratégia (maioritariamente masculina) de atribuir “nomes de mulheres” à revistas de moda e “lifestyle” destinada a descrever, difundir e capitalizar os estereótipos de género, tal como “Marie-Claire”, “Cristina”, “Maria”, etc. Partimos desta analogia da difusão dos estereótipos de género manifestos nos suportes editoriais para ilustrar o nosso posicionamento contextualizado na arquitetura (e nas artes, no geral): renunciamos a ideia do génio artístico e da figura-Deus/Deusa, bem como a ideia historicamente difundida de mulheres enquanto musas do sujeito criador (em vez de criadoras elas mesmas) e qualquer outro tipo de objetificação, romantização e mistificação de mulheres arquitetas. Tal como expresso nas práticas da arquiteta Lina Bo Bardi, defendemos a valorização do trabalho coletivo e multidisciplinar nas práticas arquitetónicas e urbanas.

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Pretendemos, apesar da historiografia elitista da profissão, discutir e expor teorias, além de promover um pensamento igualitário e interseccional sobre as seguintes temáticas: urbanismo feminista e inclusivo, sexismo na profissão e no ensino, apagamento e exclusão histórica das mulheres, feminismos, ecofeminismo, violência de gênero, igualdade, cuidados, direito à cidade, mobilidade, entre outros tópicos. Nos interessamos tanto pela história e impacto de mulheres na profissão, quanto pelo estudo de mulheres como sujeitas que vivem os espaços.

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Falamos de “feminismo” e “perspectivas feministas” enquanto posicionamento político que tomamos. Reconhecemos o repertório de lutas e teorias feministas que nos antecederam — e às quais queremos dar continuidade, usando o espaço desta revista como veículo de mobilização-discussão para esse feito. Temos consciência que os preconceitos historicamente produzidos sob os sistemas capitalistas, patriarcais e coloniais existem dentro e fora da profissão, o que ao longo do tempo escondeu, quando não apagou, as histórias de mulheres (e outras minorias), como criadoras e usuárias de espaços, sejam estes privados ou públicos. Não queremos, assim, ocupar espaços dentro de sistemas opressivos, mas sim desconstruir estes sistemas, através de uma análise crítica e diversa de discursos sobre arquitetura e urbanismo, e sobre a produção dos mesmos.

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Acreditamos na sororidade e coletividades entre mulheres, e não só, de forma a criar uma rede de discussão e debate que visa ampliar o estudo das práticas espaciais no campo da arquitetura e urbanismo. Queremos abrir o diálogo e conseguir, num mesmo espaço ou plataforma (desta revista) dar voz a uma multitude de sujeitas, alunas, arquitetas, artistas, professoras, atravésde uma abordagem horizontal / não-hierárquica, que rompe com o sistema de valorização “starsystem” que constringe a nossa profissão.

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Referências

 

[1] BARDI, Lina Bo. Curriculum literário. Em M. C. Ferraz (coord.), Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1993. p. 9

 

[2] Lina Bo Bardi em MANIR, Mônica. (2014). Da missa, a metade: Como a marxista Lina Bo Bardi usou o ritual católico para encerrar a revolta operária do feijão contra a soja brochante. Aliás. https://alias.estadao.com.br/noticias/geral,da-missa-a-metade,1578682242 [Consult. 5/10/2020].

 

[3]“féminine universelle” : é uma língua inventada pela ativista francesa Typhaine D em 2016 para a peça de teatro “Conte à Rebours” e que propôs colocar todas as palavras ao feminino como forma de questionar o “neutro masculino” e “universal” e se reapropriar a língua francesa, mas é um método aplicável para as línguas latinas em geral.

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[4] A historia apresentada do ponto de vista feminista, com perspectivas feministas, primeira aparição do termo em 1962 nos EUA, jogo de palavra entre “his”story (onde “his” é o pronome masculino) e “her”story (onde “her” é o pronome feminino).

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